segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Novos amigos, novos horizontes.

1984. Nesse ano a política nacional passava por um momento de marcante transformação, e o Bom Pastor também.
Minha vida, antes disso se resumia a rua ponta negra e aos amigos dela.
Até que um dia minha mãe, olhando o armário e a geladeira, viu que não tinha nada para comermos, e mandou que eu fosse atrás do meu irmão na casa do Jamelão, que era do mesmo grupo de dança do meu irmão.
-Sandrinha, vai na casa do Jamelão, é a primeira casa, depois do bar, lá do morrão. Fala pro teu irmão que vou pegar o dinheiro do cofrinho dele pra comprar comida!
O cofre do meu irmão era feito de lata e o dinheiro era das pulseiras que ele fazia com linha e alça de bolsa de supermercado.
Meu irmão ensaiava todos os dias com o grupo The Break City, do qual ele era o líder.
O grupo era o mais famoso da área, ganhava todos os concursos, e faziam parte dele: Edson 15 anos, Bill 16 anos, Speed 15 anos, Jamelão 13 anos, e meu irmão Alexandre, 15 anos.
Ao chegar na casa do Jamelão, comecei a chamar no portão e quem veio me atender foi a Verinha, que daquele dia em diante, se tornaria uma das minhas melhores amigas, e um símbolo de beleza e estilo pra mim. Ela abriu o portão com um lindo sorriso no rosto e disse:
- Você é a irmã do Lima, né?!
- Sou sim, minha mãe pediu que eu viesse aqui falar com ele.
-Entra, vai lá falar com ele!
Quando entrei, fiquei encantada, a casa era muito grande, na varanda, ensaiando o grupo de jazz panteras negras, do qual faziam parte, Verinha 16 anos, Elias 16 anos, Elza 17 anos, Nina 18 anos.
Na sala, uma vitrola, moveis de alvenaria, e o grupo The Break City , o meu encantamento foi quebrado com o grito do meu irmão.
- Vai pra casa!
-Não vou não, você não manda em mim.
Verinha com o jeitinho doce e único dela diz:
- Lima, deixa sua irmã aqui com a gente e vai ver o que sua mãe quer com você.
A partir daquele dia, a Verinha estava arranjando sarna pra se coçar, eu nunca mais desgrudaria dela e da Nina. Todos os dias eu ia pra lá assistir os ensaios e implorar pra fazer parte do grupo. Mas para entrar no grupo, tinha uma regra básica: ser negra. E eu era branca e desengonçada.
Foi então que pra me consolar, ela resolveu tirar uma hora do dia, antes do ensaio do grupo para me dar aulas de jazz.
A Nina por outro lado, me elegeu a mascote do grupo e me adotou com todo amor e carinho, eu não tinha roupas bonitas nem bijus, andava maltrapilha e era estabanada. Nina adorava me arrumar, me emprestava roupas, penteava meu cabelo, e me maquiava. Ela era mais velha e não tinha boa fama, mas eu até hoje não entendo o porque de tantos boatos, eu nunca tinha visto nada demais, de errado, por parte dela, as pessoas diziam que ela era má companhia pra mim, e chegaram ir a minha casa falar para minha mãe que eu estava andando com uma mulher da vida, e que ela não era boa companhia pra uma menina como eu. Mas minha mãe, uma mulher muito sábia, não ouvia as fofocas, ela acreditava nas coisas que eu falava a respeito da Nina e de todas as meninas do grupo, que só pensavam em dançar.
A Verinha, naquela época, já namorava o Marcos a uns três anos, isso em 1984, e hoje em 2009, esta casada com ele e construiu uma família unida e linda. Aquelas meninas eram minha referência, lindas, leais, inteligentes, e muito parceiras umas das outras. Quando eu estava com elas estufava meu peito de orgulho, me sentia a própria pantera negra, e vivia fazendo permanentes, pois não suportava meu cabelo escorrido, como não suporto até hoje.

Nenhum comentário:

Postar um comentário