terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Novas amizades parte 2

Novas amizades parte 2

Com o fim da minha historia com o Tony, eu voltei a sair com as meninas para o baile da Giru’s Clube de Nova Iguaçu. Era uma noite de sábado, chuvosa, e fria, me lembro que eu fui ao baile sem vontade nenhuma, minha alto-estima estava no chão, eu não conseguia entender, todos os meninos que gostava, diziam me amar como pessoa, mas então porque nunca dava certo? Eu pensava.
Estava perdida em meus pensamentos, encostada em uma pilastra, quando começou a hora da musica lenta, quando um garoto loiro de cabelo bem lisinho vem em minha direção e me tira para dançar, a música era A Cruz e Espada do RPM, eu sem vontade alguma aceitei.
Dançamos, e eu ia saindo as pressas quando ele disse:

- Não queria só dançar com você, quero te conhecer!
-É! Prazer, Sandrinha! Respondi.
-Prazer, João Carlos! Você vem sempre aqui nesse baile?
- Venho! Respondi
-Ta afim de um refri? Eu pago! Ele disse
-Tudo bem! Respondi

Sentamos para tomar refrigerante e conversar... A vida é mesmo muito engraçada. Acho que naquele momento ele tava procurando uma menina pra ficar, e acabou ganhando uma grande amiga e companheira. Nossa amizade se estendeu, não sentia nenhuma atração por ele, e acho que com o passar do tempo ele também começou a me ver como amiga, começamos a sair juntos pra jogar totó no shopping, ir ao parque então, era todo domingo. Até que um dia em que ele me chamou pra ir à casa da tia dele, ele me avisou que ela era muito cheia de frescura, gostava de tomar chá em xícaras de porcelana, ler e que seu papo era chato, falava muito sobre filosofia oriental e etc. Falou também dos seus primos Marco Túlio, que disse ser muito legal, e Max seu primo metido a intelectual, que só pensava em estudar, ler, fazia até curso de alemão. Quando cheguei na casa deles fiquei deslumbrada, a casa ficava ao lado da praça do skate, tinha muitos jovens curtindo um som e andando de skate. A casa deles era enorme, a decoração era linda, e a tia dele, um doce, uma pessoa muito fina, educada e gentil, pra surpresa do João nos duas ficamos amigas, ela me chamou para tomar chá, eu adorei... Estávamos eu e ela batendo papo, quando de repente a porta da biblioteca se abre e sai de lá um rapaz alto, forte, muito branco e loiro, era o Max, nunca vou esquecer a maneira como ele me olhou, ele ficou um tempo parado me olhando, e depois veio tomar chá com a gente. Enquanto isso, João e Túlio estavam na praça do Skate me esperando.

- Oi! Prazer meu nome é Max, quem é você? Perguntou.
Dona Nice responde por mim
- Ela é a amiga do João! Sandrinha.
-È. Sou a amiga do João. Prazer!
Tomamos chá, e ele perguntou
- Você gosta de ler?
- Gostar eu gosto, mas não tenho muito acesso a livros não!
-Qual o livro que você mais gostou de ler? Ele perguntou
- Adoro Os Lusíadas - Luís De Camões, Gibran, e Dom Casmurro de Machado de Assis. Respondi
- Alem de ler, o que você gosta de fazer? Perguntou.
- Gosto de escrever sobre coisas do cotidiano, fazer poesia, dançar e jogar totó. Adoro jogar totó! Respondi.
- Legal, podemos marcar um dia pra irmos jogar totó? Perguntou.
- Claro! Respondi.
- Quer dar uma olhada na nossa biblioteca? Tem coisas bem legais. Perguntou.
- Quero sim! Respondi
Fomos à biblioteca, daquele momento em diante o Max deixava de ser o CDF retraído e calado, introvertido, e passava a ser um grande amigo. Descobri que tinha mais afinidades com ele do que com o João e o Túlio. Gostava deles, mas ao lado de Max eu aprendia coisas, conhecia coisas meu mundo se abria, ele sempre me mostrava algo que eu não conhecia e nossas conversas se estendiam...
A vida é mesmo engraçada, era sempre eu quem levava o fora, e acabei achando que ninguém nunca fosse me amar, mas tudo isso mudou quando conheci o Max. Max se apegou de tal maneira que tinha que me ver pelo menos duas vezes por semana, acho que era porque eu gostava de ouvir o que ele tinha pra falar, eu não sabia as coisas que ele sabia, mas queria aprender, queria ouvir, e ele se sentia importante, aceito e querido, já que pro pessoal da nossa idade, ele era o chato. Eu adorava estar com ele, mas tinha medo de falar que morava num barraco, pensei que ele deixaria de gostar de mim, pensei que um menino que estudava no Leopoldo, falava Inglês e alemão, nunca iria querer ser amigo de alguém como eu. Mas Max, além de querer minha amizade, se apaixonou por mim, e foi por esse motivo, após uma declaração dele, que resolvi nunca mais aparecer, pois não queria magoá-lo, e achava que nunca seria menina pra ele.
Afastei-me, passaram-se duas semanas, não liguei, não o procurei, confesso que senti muita saudade, adorava estar com ele e a mãe dele. Mas nunca tinha tido coragem de convidar eles pra minha casa, sem mesa, sem cadeiras, com um sofá rasgado, um banheiro sem teto, tudo no tijolo, num pé de morro. O que eu não esperava era que através do telefone da minha vizinha Dona Lucia, o Max descobrir meu endereço e me procurar. Foi uma surpresa muito ruim, ele apareceu, viu toda minha pobreza, mas pra minha surpresa, e emoção, ele era muito mais especial do que eu pensava, com os olhos rasos de lagrimas me disse:
-Então é por isso que você não fala onde mora?
Eu nem respondi, fiquei de cabeça baixa sem nada a dizer.
- Sandrinha, você não devia ter vergonha de ser pobre! Isso não é feio, não é defeito, e nem motivo pra se envergonhar. Ele disse.
- É eu sei... Sussurrei
-Sandrinha, eu vim aqui por que estamos com muita saudade de você. Disse
- Quando sua mãe souber a verdade, não vai querer que eu ande com você. Exclamei.
-Você está enganada! Minha mãe gosta de você, de verdade e pra ela assim como pra mim, não importa onde você mora, e sim quem você é.
-Eu escondi isso de vocês, não mereço a confiança de vocês. Exclamei.
-Sandrinha, você merece nossa confiança, admiração e amor, e é por isso que vim aqui, perguntei a sua vizinha como chegar, ela me passou o endereço, e eu vim aqui pra dizer que quero namorar com você! Naquele momento era o que eu mais temia, pois eu tinha me afastado justamente por isso, eu o adorava, mas não pensava em namorar com ele, não sentia atração nenhuma, e não queria magoá-lo, pois ele era especial demais, pra eu o fazer sofrer. Foi então que eu consegui entender o que acontecia com os meninos que eu gostava e que não namoravam comigo, era exatamente a mesma coisa, eles não queriam me magoar.
Olhei bem nos olhos dele e disse:
-Max, você é alguém que eu nunca vou esquecer, mas não quero namorar com você, pois te amo como um irmão, queria que você fosse embora e nunca mais me procurasse, vai ser melhor assim... Quem sabe um dia quando tudo passar poderemos ser bons amigos novamente.
-Você tem certeza? Eu não me importo com sua condição financeira, é isso? Perguntou.
-Não! Apenas não sinto o mesmo que você sente. Respondi.
- Sandrinha, eu vou embora da sua vida, mas saiba que se você quiser vou estar te esperando, pois você é a menina com quem eu quero me casar, pensa nisso! Disse isso, beijou minha mão e se foi.
Eu gostava tanto dele, da sua companhia, que quase corri atrás dele pra dizer que aceitava namorar com ele, mas me segurei, pois sabia que se eu fizesse isso eu estaria pensando apenas em mim... Ele iria se apegar ainda mais,
E depois, se eu o deixasse, o sofrimento seria maior.
Assim... Tudo recomeça novamente.