quarta-feira, 16 de março de 2011

O Diário vira roteiro de longa


O Diário que vira roteiro de longa

Começamos uma nova vida, o Raphael estava com 09 anos, e nessa
época começou a desenvolver seu lado artístico e musical.
Coloquei-o no teatro, montei um grupo de dança para ele.
Na intenção de ajudar ao meu filho a mostrar seu trabalho, produzi um evento para que ele pudesse se apresentar, e foi nesse evento que conheci
Leandro Firmino da hora.
Era um domingo como outro qualquer quando me apareceu um grupo de
Meninos, um deles, Marquinhos se aproxima e diz:
-Dona Sandra Lima, a senhora deixaria agente se apresentar no seu
Evento pra divulgar nosso trabalho?
- Claro meu filho! Respondi.
O grupo de cinco meninos chamava-se, Grupo Fan era um grupo pop de musicas autorais, composto por Nando, PR, Kinho, Léo, e Cassio.
Nessa época o filme Cidade de Deus estava sendo produzido, mas ninguém sabia, o Léo chega um dia para se apresentar e trás o Leandro com ele
e me apresenta, assim foi dado o inicio da nossa amizade.
O Filme é lançado, o sucesso inesperado, o Oscar, e em meio a tudo isso
eu e Leandro nos afastamos por um tempo, até que em 2003 ele descobre
onde estou trabalhando, na época numa agência de modelos e foi me visitar, foi uma tarde muito gostosa, conversamos muito e no meio desta conversar relatei algumas passagens do meu pai.
e uma das passagens que emocionou o Le, foi quando narrei que as crianças ao avistarem o caminhão azul do meu pai saiam gritando:
- O Português, vem o português!
-Sandra escreve isso pra mim, daria um bom roteiro! Leandro exclamou entusiasmado.
-Posso te emprestar meu diário! Respondi
- Poxa seria ótimo, empresta mesmo? perguntou
-Claro! Respondi
Combinamos o dia em que ele iria buscar o diário, ele foi e depois desse dia em diante perdemos o contato novamente, pois ele estava com projetos fora do Brasil e quase não ficava no Brasil e nem no Rio.
Em 2006, recebo um telefonema dele me pedindo para que eu recebesse a
Cineasta Kátia Lund, alguns fotógrafos e produtores da HBO, e os roteiristas Julio Pecly e Paulo Silva.
Disse a ele que tudo bem, que receberia a todos, e assim aconteceu...
Foi uma noite muito gostosa, o Julio parecia ser meu amigo de infância
falava de mim e de meus amigos como se tivesse vivido lá no Bom Pastor.
Kátia Lund pediu que eu a levasse para conhecer as pessoas de lá, marcamos e fomos todos, fotógrafos, produtores, roteiristas, Kátia, e Leandro.
Quando chegaram ao Bom Pastor, todos conferiram de perto o quanto aquele lugar é especial, Leandro se apaixonou por todos e todos por ele.
Em 2009, recebo a noticia que o filme já estava em pré produção, que a atriz Dira Paes adorou o roteiro que poderia ser a atriz a representar minha mãe na historia do diário.
Desse dia em diante eu e Leandro continuamos nos vendo, até produzimos
um curta juntos, e estamos aguardando verba para executar o projeto.

quinta-feira, 10 de março de 2011

O Começo do fim

Estava tudo indo bem entre eu e o Marcelo, até chegar ao
Jardim Clarice uma Creperie que logo ficou famosa por
ter um lindo garçom, que virou o alvo de mulheres, meninas
e gays, o nome dele era Flávio, bem branco de cabelos e olhos
pretos, corpo definido por causa das artes marciais.
Apesar de ver todas as minhas amigas suspirando por ele,
eu nem dava a mínima para sua beleza, e muitas vezes
irritei-me com suas investidas, eu respeitava muito o Marcelo
era um grande companheiro, um cara muito leal e doce, eu nem
pensava em traí-lo, mesmo não o amando como homem. Parecia que quanto, mas eu dava fora e desprezava o Flavio mas ele investia, talvez eu tenha sido para ele um troféu.
Flavio investia em serenatas, bilhetes e rosas na minha janela.
Foi em 1988, ano em que foi Promulgada a Constituição Federal Brasileira com capítulo sobre o Meio Ambiente, neste mesmo ano em 27de abril eu termino meu namoro com o Marcelo, para não traí-lo, e dar inicio ao meu
namoro com o Flavio.
O Fim do namoro foi trágico , ele não aceitava, ficou embriagado
e aprontou muito tomado por desespero profundo e eu sem saber
naquele dia estava jogando fora um grande amor.
Em 1989, engravido do meu filho Raphael, grávida descubro as diversas traições do Flavio e termino tudo com ele após um flagrante.
Alguns anos se passam, um belo dia meu pai chega em casa com a noticia
que iríamos voltar para o Bom Pastor, pois estava muito difícil continuar pagando aluguel e tantas contas.
Eu trabalhava na Gávea, e pegava as 06h30min no trabalha, não teria como
voltar, lá o ultimo ônibus era as 23h00minhoras, eram 3 horas de viagem até a Zona Sul.
Meu filho foi com meus pais, e eu tive que deixar ir, pois lá tinha um colégio particular esperando por ele (o colégio da minha cunhada) e
eu não tinha condições de pagar alguém para ficar com ele enquanto trabalhava, foram anos muito tristes, tive depressão, chorava muito
mas tinha que ser assim...
Comecei um namoro com um rapaz, e logo começamos a morar juntos
foi então que consegui uma vaga para o Raphael num colégio perto
do Jardim Clarice, e fui buscá-lo.
1998, a caminho do bom Pastor eu pensava em como a vida é cheia de mistérios e surpresas, uma coisa me marcou muito, o fato do meu filho ter
ido morar no mesmo bairro, e que seus amigos eram filhos dos meus amigos, e que o seu melhor amigo “Tiaguinho” era filho da minha melhor
amiga de infância Vilma, minha mãe Adelaide o adotou como neto
e todos da rua ponta negra o amavam, para ele assim como foi para mim, doeu virar as costas e deixar aqueles amigos queridos, para seguir um novo caminho.

A MUDANÇA

1986, ano internacional da paz, Portugal e Espanha entram na união Européia.
Nesse ano meu pai aluga uma casinha em um lugar chamado Jardim Clarice, em Jacarepaguá. Nossa, era como um sonho... extremamente diferente do Bom Pastor
as ruas do Jardim Clarice, eram todas de pedras, e havia sítios, jardins
e muitas alamedas floridas e arborizadas. O empreendimento imobiliário foi feito pelo antigo dono das Lojas Brasileiras, Adolfo Basbaun que homenageou a esposa Clarice dando seu nome ao jardim. A Praça local é em memória de Mário Tibiriçá (1880-1974), um dos primeiros moradores da Estrada Curipós , estrada em torno da qual foi construído o condomínio, estrada onde fomos morar.
As ruas do Jardim Clarice têm nomes de romances e livros de poesia da literatura brasileira. A sugestão foi feita no ano de 1976 por Carlos Drumond de Andrade ao Prefeito (1926-1981). Era um sonho morar num lugar tão pacifico e belo, mas ainda assim o Bom Pastor fazia parte das minhas melhores lembranças.
Assim que chegamos ao Jardim Clarice eu fiz um novo amigo, um Surfista muito engraçado, desengonçado, cabeludo, mas muito muito legal, seu nome era Marcelo.Quando nos conhecemos eu não fazia ideia de que era filhinho de papai, ele era simples e meigo, minha mãe o adorava, ia a nossa casa, sentava no chão para comer.

Até que um dia ele me convida para conhecer sua familia, e ai foi aquela surpresa ele tinha um Alfa Romeu, morava numa casa que tinha sala de jogos, piscina, sauna, sala de video, enfim... confesso que me assustei, fiquei pensando nas tardes em que ele tomava café com farinha lá em casa, foi deprimente. Eu nem imaginava que aquele seria o homem que mas me amaria na vida. Por mim, deixou de beber, fez as pases com a familia, voltou a estudar e foi trabalhar na empresa do pai, a fabrica de lingerie Shanadu. Nunca vou me esquecer o dia em que cortou o cabelo por um pedido meu, toda familia havia tentado, mas só eu consegui a façanha, eu mesma cortei e deixei cheio de caminhos de rato, ele ao invéz de brigar comigo riu e decidiu terminar o trabalho no salão de um amigo.Eu e Marcelo começamos a namorar alguns meses depois de nos conhecermos, apesar de não o ama-lo como homem, eu o amava muito como pessoa, e o namoro foi ficando serio.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Escapando de um Estupro

A Angélica foi me procurar para que eu voltasse a sair com ela. E todos queriam saber o motivo do fim do meu namoro com Walmir, afinal de contas eramos um casal incomum, estávamos sempre sorrindo juntos, dançando juntos, sempre felizes, e tinhamos muita afinidade...

- Sandrinha, ninguém consegue entender o fim do namoro de vocês. - disse Angélica - Pois o Wal anda muito triste, achamos que ele sente muito sua falta.
- Também fiquei triste com o fim de nosso namoro. - eu disse - Mas as pessoas deixam de gostar uma das outras, isso acontece.

Na verdade eu não toquei no verdadeiro motivo do fim do namoro com ninguém, eu respeitava o Wal e não queria ve-lo sofrendo discriminação, humilhação e preconceito, afinal de contas, ele era meu melhor namorado, e eu até cantava a música do Kid Abelha, "os outros" para ele: "Procuro evitar comparações entre flores e declarações, eu tento te esquecer... a minha vida continua, mas é certo que eu seria sempre sua, quem pode entender? Depois de você, os outros são os outros e só."
Voltei a frequentar o New Club com as meninas de Nova Iguaçu. Lá estava eu recomeçando... No início foi muito difícil, para onde eu olhava, via lembranças do meu melhor namorado, nada tinha graça sem a alegria, o sorriso e a compania dele. Quando tocava The Cure a dor era tanta que eu não conseguia dançar, sentava e ficava em transe até a música acabar. No nosso ciclo de amigos do clube havia um rapaz branco, gordinho, de cabelos escuros, chamado Marcelo. As meninas adoravam ele, diziam ser um cara inteligente, tinha carro, e sempre tinha dinheiro para pagar bebidas e lanches para elas. Mas eu não conseguia gostar dele, tinha um pressentimento, alguma coisa estranha. Além de que ele sempre se gabava das mulheres que saia com ele, e contava vantagem. Era sempre aos domingos que ele aparecia por lá, e num desses domingos eu fui ao clube quase que forçada, tive um pressentimento muito ruim e forte, fiquei confusa se era um pressentimento ou se era saudade do Wal, se eu estava triste porque sabia que mais uma vez sua falta ali naquele lugar era dolorida demais pra mim. Mas foi assim mesmo, e para mim aquela não era uma noite como outra qualquer, realmente minha compania estava péssima, eu estava quieta demais, e nada fazia eu me sentir melhor. Era como se eu vissetudo diferente ao meu redor, as pessoas dançando, sorrindo, se divertindo, e eu me sentindo sozinha e aflita. Derrepente minha tristeza foi esquecida por um momento, quando o DJ da casa chamou a atenção para um concurso de calouros, a cada apresentação a reação da galera era muito divertida e eu quis cantar também, e fiz... cantei a música "como eu quero" do Kid Abelha, me lembro que tremia muito e me divertia bastante vendo a galera cantar junto. A brincadeira acaba, volto eu pra minha triste realidade, a falta que o Wal me fazia e aquela angústia estranha no peito. Fui para perto das meninas que estavam com o Maecelo, sentadas na mesa que ficava ao redor da piscina, elas pareciam muito felizes... 1h da manhã, hora de ir embora. Me juntei às meninas que disseram:

- Sandrinha, vamos pegar carona com o Marcelo.
- Mas vocês moam tão perto, da pra ir apé. - eu disse.
- Mas pra quê andar se podemos chegar mais rápido e com segurança, indo com o Marcelo? - disse Helena.

Naquele momento eu me senti acoada, o que fazer? Ir a pé sozinha por aquelas ruas desertas e escuras ou ir com elas? A segunda opção parecia mais certa, e assim entrei no carro com as meninas. O Marcelo deixou a Helena em casa, depois a Kátia e depois a Angélica. Eu não entendi muito bem porque a Helena insistia que eu fosse de carro com ele. Meu coração estava angustiado, havia algo errado, havia um clima pesado... o Marcelo segue com o carro, somente eu e ele dentro. Rodou com o carro, parecendo não ter um rumo certo. Rodou, rodou, me deixando cada vez mais nervosa e desconfiada de que algo estava errado. Até que ele me levou para uma rua deserta, muito escura, na estrada de madureira, não passava carro nenhum. Tinha uma casa quebrada, uma ruina... naquele momento eu entendi o que iria acontecer. Assim que parou o carro, parecia ter sido dominado por algum espírito malígno, ficou transfigurado e disse:

- Escuta aqui, eu te trouxe aqui para que você faça tudo que eu quiser, e se não obedecer eu te mato!
- Não, por favor não! - respondi desesperada - Eu sou virgem, nunca transei, tenho medo!

Mas parecia que quanto mais nervosa eu ficava, mas ele tinha força. Derrepente ele tenta colocar a mão no meu seio e com a outra mão pega na minha para levar até seu pênis, eu então entro em desespero, uma mistura de medo e nojo, muito nojo. Eu reluto, puxo minha mão e grito. Ele então me da um tapa, rasga minha blusa, me xinga e grita muito. Por um momento passou pela minha cabeça que eu lutaria e então amanheceria morta ali e que, talvez, minha mãe nunca mais teria notícias de mim. Foi quando a voz que sempre fala comigo me disse:

- Ele vai falar algo e você finja que vai aceitar, que vai ficar tudo bem, finja que vai obedecer. É a única maneira de escapar.

Nesse mesmo momento em que eu ouvia a voz, ele para olhando para as ruinas da casa e diz:

- Olha aqui, vou te levar para um lugar, você vai fazer tudo que eu mandar e depois eu largo você. Do contrário, eu te trago aqui e te mato. Ouviu?
- Ouvi, ouvi sim. Tudo bem.

Ele então segue para um motel. Já na entrada, eu disfarçando tentei abrir a porta do carro, ele percebe e fica furioso, e diz "não tenta de novo, não tenta!" Mas uma vez fingi que estava fazendo o que ele mandava. Entramos no motel e percebi que os seguranças olhavam estranho, preocupados, como se soubessem o que estava acontecendo. Pensei comigo mesma que naquele dia iria perder não só a minha virgindade, mas meus sonhos, minha pureza, minha dignidade e minha vida. Só conseguia pensar em minha mãe, meu pai, meus familiares...
Entramos na garagem, pensei ser o fim, pensei que não teria mais chances de escapar, foi quando a voz mais uma vez se manifestou, dizendo o que fazer, e eu fiz, sem saber como, sem entender até hoje como eu consegui disfarçar e pegar a chave do quarto, segurei a chave, escondendo-a... o mais estranho era que tinha um enorme chaveiro redondo na ponta, que não dava pra esconder. Marcelo gritou "sai do carro! Sai do carro! Espera na escada." Saí sem nada a dizer. Ele ficou procurando algo no carro e disse: "Cadê a chave? Cadê a porra da chave?" Naquele instante eu senti medo que ele percebesse que a chave estava comigoe fiz mais uma vez o que a voz mandou e disse: "Tudo bem, eu te ajudo a procurar." E lentamente fui me aproximando do outro lado do carro, da porta do carona. Não entendi porque ele não esboçou nenhuma reação ou atitude. Foi quando a voz me disse que eu me jogasse no chão com a cabeça para fora do portão, pois não tinha como correr, pois o portão estava quase fechado. Me joguei e ao mesmo tempo gritei. Ele me pegou por trás, tampou minha boca e nariz, fiquei sem ar enquanto lutava para não entrar no carro novamente. Ele abriu a porta do carro, e eu então chutei, fechando novamante, então aparece um segurança armado gritando "O que está acontecendo aqui?" Então Marcelo me joga na parede com muita força e diz "Essa mulher é louca!", entra no carro e sai. Eu, em desespero, me jogo na frente dos carros que saiam do motel... não posso esquecer os olhares das pessoas assustadas e, ao mesmo tempo lutando para não me ajudar, saindo as pressas. Foi quando uma camareira veio e me pegou, Me deu água com açucar, conversou muito comigo... eu me lembro que chorei muito e falei pra ela que era virgem, que não queria magoar meus pais e não queria que minha mãe me visse morta numa estrada qualquer. Ela me colocou num quarto e disse: "Filha, fica calma, você agora tá segura. Assim que amanhecer, um de nossos seguranças vai te levar num ponto de ônibus e você vai para casa." E assim aconteceu...
Durante longos anos escondi esse fato de minha família, pois não queria vê-los tristes. Mas hoje em dia costumo narrar, para que as meninas dessa faixa etária peguem carona jamais. Ele era meu conhecido a 3 anos, frequentavamos os mesmos clubes, e assim mesmo eu não poderia imaginar que ele era aquele monstro. Espero que isso tenha servido de lição para ele.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Uma descoberta surpreendente

A vida é assim mesmo... um dia estamos cercados de amigos legais ou namorando alguém especial, e no outro, lá estamos nós sozinhos novamente, as vezes mais feliz, e em outras vezes, mais tristes.
Bem, mais uma vez pessoas iam embora da minha vida para nunca mais voltar, como o Max e sua família, e novamente tudo o que eu tinha eram as minhas raízes, minhas velhas amizades que não passavam, estavam sempre alí, firmes...
Carrego comigo o dom de fazer amigos da mesma maneira que preservo velhas amizades, na verdade, gosto mesmo é de ter muitos amigos de várias classes sociais, raças e pensamentos diferentes. Gosto de observar e aprender. Assim continuei minha busca por novos amigos...
Comecei a ir para a Gerus sozinha, pois as meninas estavam namorando firme e já não iam com frequência aos bailes.
Eu era destemida e determinada e tinha facilidade de me comunicar, e meu objetivo era fazer amigos para me divertir e dançar. Foi num desses bailes que eu coheci Angélica e Katia. Elas estavam dançando em passinhos e eu me juntei a elas pra dançar. Me lembro que gostei da Angelica de cara, já a Katia era apenas a questão dela ser amiga da Angelica. Dançamos até vir a hora da musica lenta. Foi nessa hora que a Angelica disse "vamos tmar um refri?". E assim fizemos. Sentamos na mesa do bar que ficava dentro da danceteria e começamos a conversar.

- Adorei seu cabelo cheio de trancinhas - disse Angelica.
- Eu também adoro tranças. Minha mãe faz essas tranças em todas as meninas da minha rua e eu odeio meu cabelo, é muito liso, fica caindo na cara, me incomoda - eu disse.
- Eu não gosto de ficar perdendo tempo com cabelo, por isso corto curto - disse Katia.

O cabelo dela realmente era bem curtinho, já o da Angelica era bem liso, muito preto e batia acima do bumbum...

- Eu acho que sou diferente de vocês duas - disse Angelica - Não consigo nem pensar em cortar meu cabelo, adoro cabelos longos e lisos... mas vamos mudar de assunto, né? Sandrinha, quais as bandas que você mais curte?
- Sou eclética, gosto de tudo um pouco - disse eu - Mas sou fã mesmo de The Cure, Legião Urbana, Supla, Uns e Outros, Nenhum de Nós, Plebe Rude, e adoro o Dr. Silvana (risos).
- Caramba! - Exclamou Katia - Gosta de todas essas bandas de rock e também do Dr. Silvana?
- Eclética mesmo - disse Angelica - eu também adoro Dr. Silvana e cia.
- Sou eclética mesmo! - eu disse - Adoro Silvinho Blaublau, Alberto Brizola, Léo Jaime, Lobão, Djavan... na maioria das vezes curto música nacional, mas também amo os Menudos...
- Começou a música pra dançar, vamos voltar pro salão. - disse angelica.

Estávamos dançando na pista de música internacional, onde o pessoal dançava break, quando dois meninos se aproximam... Marquinhos e Telson. Marquinhos era alto, devia ter 1,80m de altura, magro e muito desengonçado, já Telson era lindo, 1,70m mais ou menos, olhos esverdeados, um corpo definido... mas os dois eram igualmente adoráveis. Se aproximaram de nós para acompanhar o passo e, logo já eramos um grupo de amigos que se encontrava todo sábado no mesmo local.
Em um fim de semana desses foi que apresentei os meninos pro meu irmão. Eles tinham em comum o break e logo ficaram super amigos, começaram até a frequentar minha casa.
Minha mãe adorava Telson, ele fazia tudo para agradá-la, até que um dia ele veio me pedir em namoro e eu não quis. Minha mãe e meu irmão ficaram super chateados, eles achavam que ele era um cara legal. E era. Mas eu queria apenas sua amizade. Eu adoro a idéia de um grupo de amigos todo fim de semana dançando, batendo papo. Não queria ter alguém me prendendo, não queria enganar ninguém, eu nem pensava em namorar mas ninguém, o Tony ainda estava bem vivo em meu coração e ia demorar um pouco pra esquecer o quanto sofri, o quanto o quis. E foi assim que mais uma amizade se desfez. Angelica veio conversar comigo, pois percebeu em um dia que nem me aproximei dos meninos, e nisso eu expliquei minha situação para ela e decidimos apenas dançar.
Dançamos até umas 02:00 e meu irmão não apareceu no baile nesse dia. Fiquei sem companhia pra voltar pra casa.

- Angélica, to ferrada! - eu disse - Meu irmão não apareceu e vou ter que ir andando pra casa sozinha.
- Você pode dormir la em casa - ela disse - a gente da um jeito.
- Seus pais não vão achar ruim?
- Não, fica tranquila.

Saimos da Girus umas 4 da manhã e fomos para a casa da Angélica, que ficava na estrada de madureira (Nova Iguaçu) ao lado da faculdade e a casa da Katia ficava em frente.
No dia seguinte, um domingo, fomos na casa da Katia... nunca vou me esquecer desse dia... eu tomei banho na casa dela e derrepente ela apareceu na sala dizendo pra todo mundo que eu usava argolas feitas co ferro de Durmabem. Era verdade, eu não tinha dinheiro para comprar bijuterias, ai fazia argolas desse ferrinho, mas fiquei muito triste, me senti muito humilhada. Não consigo esquecer a cena, todos sentados na imensa sala assistindo Silvio Santos...
Sai da casa dela como fugida, as pressas, não estava contendo a dor de ser humilhada. Foi então que Valmir, irmão dela veio falar comigo. Ele saiu da casa gritando "Sandrinha, Sandrinha!" Eu fingia que não ouvia e fui para o ponto de ônibus esperar meu ônibus passar. Valmir senta do meu lado e diz:

- Sandrinha, não liga pro que Kátia diz, ela é uma menina mimada e futil.

Fiquei um tempo calada, perdida, tentando achar um motivo para que as pessoas façam coisas desse tipo, magoar e ferir outras pessoas assim, sem razão. Mas derrepente voltei pra realidade com o Valmir me falando de seus problemas, tristezas... pensei "Caramba, esse menino que tem tudo o que quer também tem suas lamentações. Foi então que falei:

- A katia realmente me entristeceu, pensei qe era menina humilde.
- Sandrinha, não importa o que a Katia é ou deixa de ser, o que importa é o que você é! E você é uma garota muito legal, não importa se não tem dinheiro para andar na moda ou usar jóias.
- É, eus ei... pra mim isso também não importa, mas fico triste porque as pessoas se importam, elas não olham pra dentro de cada um , mas julgam pelo exterior...
- Eu olho pro interior! E queria muito ter sua companhia para conversar, sair, dançar... você quer namorar comigo?
- Como assim? Assim sem mais nem menos começar a namorar com você?
- É, assim! Mas vamos fazer o seguinte: não precisa me beijar, abraçar, nada disso agora. A gente sai, se diverte, dança, conversa, você conhece meus pais e a gente só faz aquilo que você quiser fazer. Topa?
- É, acho que assim pode ser!
- Legal, então vou te levar em casa.
- Tudo bem.

E assim ficamos dois meses, raramente davamos um beijo, mas nos divertiamos muito juntos, eu o amava de uma maneira especial, ele me fazia acreditar mais em mim, e fazia companhia em momentos tristes ou alegres, e tinha um abraço doce e fraterno, parecia que queria me proteger do mundo em seus braços. Mas boatos circulavam que ele era gay, as pessoas riam de mim quando eu passava com ele, e eu já desconfiava, tinha certeza que ele era gay, mas como eu não pensava em iniciar uma vida sexual, não me importava, até preferia um namorado que não quisesse transar, com ele eu me sentia querida de verdade, pois eu sentia em cada gesto, em cada abraço o quanto ele realmente se sentia bem ao meu lado, isso era real. Lembro-me como se fosse hoje. Era uma noite fria, estávamos no New Clube, ele sentou na minha frente, estava tocando The Cure... Ele olhou nos meus olhos e perguntou:

- Sandrinha, se você namorasse uma pessoa e descobrisse que ele era gay, mas nunca te traiu com nenhum homem, mas antes de você saia com homens, você entenderia?
- Claro que entenderia, as pessoas não podem ser julgadas pelo que fizeram, mas pelo que fazem no momento que estão com você.
- Você é realmente uma pessoa surpreendente, adoro você!
- Também adoro você!

Nesse momento começou a tocar Boys Don't Cry - The cure. Ele me puxou para o meio do salão e dançamos até pingar de suor. Mas aquela noite parecia ser a nossa despedida, talvez ele queria dizer adeus, mas não sabia como fazer.
Depois desse dia, não o vi mais. Ficou sem me procurar dias, semanas... Eu também não o procurei, respeitei sua ausência, acho que no fundo entendi tudo, sabia que aquele dia tinha sido uma despedida.
Fui então ao baile da Girus com as meninas do Bom Pastor. E como sempre acontecia após o baile, ficamos sentadas na rodoviária de Nova Iguaçu esperando a hora do ônibus. Eu estava ali, sentada no meio-fio, quando vi ao longe três lindos travestis e geral mexendo com eles. E eu não acreditei no que vi: o Valmir vestido de mulher. Ele tentou se esconder de mim, mas eu corri gritando:

- Espera, espera!

Ele ficou de cabeça baixa, com vergonha de me olhar nos olhos. Então eu disse:

- Val... não precisa ficar triste e nem com vergonha.
- Desculpa Sandrinha. Eu não queria te magoar.
- Val, isso não muda em nada o meu respeito, minha admiração, meu carinho por você! Você foi o melhor namorado que tive, aquele que me fez sorrir, me fez companhia nas horas difíceis, aquele que realmente gostava de estar comigo e o melhor, não tinha nenhuma intenção por trás de tudo...
- Eu gosto demais de você, Sandrinha. Mas não queria continuar te enganando. Mais cedo ou mais tarde você irá despertar para a vida sexual e eu não seria bom pra você.
Talvez você até tenha razão, mas você foi e será eternamente alguém especial para mim. Amo você de uma maneira pura e verdadeira, que talvez nunca mais amarei, diferente de tudo que vivi.
- Obrigado Sandrinha. Eu sinto o mesmo por você.

Nesse momento cairam lágrimas de seus olhos borrando o preto de sua maquiagem. Eu o abracei, beijei no rosto e disse adeus... e então o vi indo embora de minha vida. Mais uma vez alguém especial estava saindo da minha vida e eu ficando sozinha novamente.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Novas amizades parte 2

Novas amizades parte 2

Com o fim da minha historia com o Tony, eu voltei a sair com as meninas para o baile da Giru’s Clube de Nova Iguaçu. Era uma noite de sábado, chuvosa, e fria, me lembro que eu fui ao baile sem vontade nenhuma, minha alto-estima estava no chão, eu não conseguia entender, todos os meninos que gostava, diziam me amar como pessoa, mas então porque nunca dava certo? Eu pensava.
Estava perdida em meus pensamentos, encostada em uma pilastra, quando começou a hora da musica lenta, quando um garoto loiro de cabelo bem lisinho vem em minha direção e me tira para dançar, a música era A Cruz e Espada do RPM, eu sem vontade alguma aceitei.
Dançamos, e eu ia saindo as pressas quando ele disse:

- Não queria só dançar com você, quero te conhecer!
-É! Prazer, Sandrinha! Respondi.
-Prazer, João Carlos! Você vem sempre aqui nesse baile?
- Venho! Respondi
-Ta afim de um refri? Eu pago! Ele disse
-Tudo bem! Respondi

Sentamos para tomar refrigerante e conversar... A vida é mesmo muito engraçada. Acho que naquele momento ele tava procurando uma menina pra ficar, e acabou ganhando uma grande amiga e companheira. Nossa amizade se estendeu, não sentia nenhuma atração por ele, e acho que com o passar do tempo ele também começou a me ver como amiga, começamos a sair juntos pra jogar totó no shopping, ir ao parque então, era todo domingo. Até que um dia em que ele me chamou pra ir à casa da tia dele, ele me avisou que ela era muito cheia de frescura, gostava de tomar chá em xícaras de porcelana, ler e que seu papo era chato, falava muito sobre filosofia oriental e etc. Falou também dos seus primos Marco Túlio, que disse ser muito legal, e Max seu primo metido a intelectual, que só pensava em estudar, ler, fazia até curso de alemão. Quando cheguei na casa deles fiquei deslumbrada, a casa ficava ao lado da praça do skate, tinha muitos jovens curtindo um som e andando de skate. A casa deles era enorme, a decoração era linda, e a tia dele, um doce, uma pessoa muito fina, educada e gentil, pra surpresa do João nos duas ficamos amigas, ela me chamou para tomar chá, eu adorei... Estávamos eu e ela batendo papo, quando de repente a porta da biblioteca se abre e sai de lá um rapaz alto, forte, muito branco e loiro, era o Max, nunca vou esquecer a maneira como ele me olhou, ele ficou um tempo parado me olhando, e depois veio tomar chá com a gente. Enquanto isso, João e Túlio estavam na praça do Skate me esperando.

- Oi! Prazer meu nome é Max, quem é você? Perguntou.
Dona Nice responde por mim
- Ela é a amiga do João! Sandrinha.
-È. Sou a amiga do João. Prazer!
Tomamos chá, e ele perguntou
- Você gosta de ler?
- Gostar eu gosto, mas não tenho muito acesso a livros não!
-Qual o livro que você mais gostou de ler? Ele perguntou
- Adoro Os Lusíadas - Luís De Camões, Gibran, e Dom Casmurro de Machado de Assis. Respondi
- Alem de ler, o que você gosta de fazer? Perguntou.
- Gosto de escrever sobre coisas do cotidiano, fazer poesia, dançar e jogar totó. Adoro jogar totó! Respondi.
- Legal, podemos marcar um dia pra irmos jogar totó? Perguntou.
- Claro! Respondi.
- Quer dar uma olhada na nossa biblioteca? Tem coisas bem legais. Perguntou.
- Quero sim! Respondi
Fomos à biblioteca, daquele momento em diante o Max deixava de ser o CDF retraído e calado, introvertido, e passava a ser um grande amigo. Descobri que tinha mais afinidades com ele do que com o João e o Túlio. Gostava deles, mas ao lado de Max eu aprendia coisas, conhecia coisas meu mundo se abria, ele sempre me mostrava algo que eu não conhecia e nossas conversas se estendiam...
A vida é mesmo engraçada, era sempre eu quem levava o fora, e acabei achando que ninguém nunca fosse me amar, mas tudo isso mudou quando conheci o Max. Max se apegou de tal maneira que tinha que me ver pelo menos duas vezes por semana, acho que era porque eu gostava de ouvir o que ele tinha pra falar, eu não sabia as coisas que ele sabia, mas queria aprender, queria ouvir, e ele se sentia importante, aceito e querido, já que pro pessoal da nossa idade, ele era o chato. Eu adorava estar com ele, mas tinha medo de falar que morava num barraco, pensei que ele deixaria de gostar de mim, pensei que um menino que estudava no Leopoldo, falava Inglês e alemão, nunca iria querer ser amigo de alguém como eu. Mas Max, além de querer minha amizade, se apaixonou por mim, e foi por esse motivo, após uma declaração dele, que resolvi nunca mais aparecer, pois não queria magoá-lo, e achava que nunca seria menina pra ele.
Afastei-me, passaram-se duas semanas, não liguei, não o procurei, confesso que senti muita saudade, adorava estar com ele e a mãe dele. Mas nunca tinha tido coragem de convidar eles pra minha casa, sem mesa, sem cadeiras, com um sofá rasgado, um banheiro sem teto, tudo no tijolo, num pé de morro. O que eu não esperava era que através do telefone da minha vizinha Dona Lucia, o Max descobrir meu endereço e me procurar. Foi uma surpresa muito ruim, ele apareceu, viu toda minha pobreza, mas pra minha surpresa, e emoção, ele era muito mais especial do que eu pensava, com os olhos rasos de lagrimas me disse:
-Então é por isso que você não fala onde mora?
Eu nem respondi, fiquei de cabeça baixa sem nada a dizer.
- Sandrinha, você não devia ter vergonha de ser pobre! Isso não é feio, não é defeito, e nem motivo pra se envergonhar. Ele disse.
- É eu sei... Sussurrei
-Sandrinha, eu vim aqui por que estamos com muita saudade de você. Disse
- Quando sua mãe souber a verdade, não vai querer que eu ande com você. Exclamei.
-Você está enganada! Minha mãe gosta de você, de verdade e pra ela assim como pra mim, não importa onde você mora, e sim quem você é.
-Eu escondi isso de vocês, não mereço a confiança de vocês. Exclamei.
-Sandrinha, você merece nossa confiança, admiração e amor, e é por isso que vim aqui, perguntei a sua vizinha como chegar, ela me passou o endereço, e eu vim aqui pra dizer que quero namorar com você! Naquele momento era o que eu mais temia, pois eu tinha me afastado justamente por isso, eu o adorava, mas não pensava em namorar com ele, não sentia atração nenhuma, e não queria magoá-lo, pois ele era especial demais, pra eu o fazer sofrer. Foi então que eu consegui entender o que acontecia com os meninos que eu gostava e que não namoravam comigo, era exatamente a mesma coisa, eles não queriam me magoar.
Olhei bem nos olhos dele e disse:
-Max, você é alguém que eu nunca vou esquecer, mas não quero namorar com você, pois te amo como um irmão, queria que você fosse embora e nunca mais me procurasse, vai ser melhor assim... Quem sabe um dia quando tudo passar poderemos ser bons amigos novamente.
-Você tem certeza? Eu não me importo com sua condição financeira, é isso? Perguntou.
-Não! Apenas não sinto o mesmo que você sente. Respondi.
- Sandrinha, eu vou embora da sua vida, mas saiba que se você quiser vou estar te esperando, pois você é a menina com quem eu quero me casar, pensa nisso! Disse isso, beijou minha mão e se foi.
Eu gostava tanto dele, da sua companhia, que quase corri atrás dele pra dizer que aceitava namorar com ele, mas me segurei, pois sabia que se eu fizesse isso eu estaria pensando apenas em mim... Ele iria se apegar ainda mais,
E depois, se eu o deixasse, o sofrimento seria maior.
Assim... Tudo recomeça novamente.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

NOVASS AMIZADES e UM ROMANCE INESQUECIVEL

Com o fim do meu namoro com o Gilberto, o adeus aos amigos do circo
E a tristeza do acidente da Valéria, o Bom Pastor ficou muito triste, eu precisava superar tudo aquilo, fui à busca de novos amigos, novos lugares.
Ao invés de ir para a sorveteria e da casa da Verinha, comecei a freqüentar o Shopping
De Nova Iguaçu, e os clubes de lá. Dando inicio a uma nova e inesquecível fase de minha vida.
Num desses passeios, estava no centro de Nova Iguaçu. Parei para perguntar a um camelô que vendia relógios que horas eram, foi quando ouvi uma voz atrás de mim, dizendo a hora, quando olhei, era um rapaz bonito, branco, de cabelos escuros, ele me deu um lindo sorriso e eu, tímida, correspondi. Ele disse:

- Você está com pressa ou pode tomar um sorvete?
- Posso sim! – respondi.

Me lembro que fiquei fascinada por ele, como se fosse um encantamento. Andamos pela rua brincando, rindo, ele fazia coisas engraçadas, e me fez descer e subir a escada rolante de um centro comercial, invertendo, descendo quando a escada subia e vice-versa, achei super divertido. Depois fomos jogar totó, jogamos a tarde toda e, finalmente, eu perguntei:

- A gente passou a tarde toda juntos e eu não perguntei seu nome, qual é?
- Artidônio. – ele respondeu – Mas todos me chamam de Tony. Prazer. E você, como se chama?
- Sandra, mas todos me chamam de Sandrinha.
- Posso te colocar um apelido?
- Pode.
- Vou te chamar de monstrinho.
- Monstrinho? Mas por quê?
- Você é uma menina estranha, incomum. Usa roupas largas, é diferente das outras meninas arrumadinhas que conheço.
- Mas é só isso? Eu sou feia demais?
- Não! Feia você não é! Apenas diferente, e eu gosto muito do seu jeito. Você vai ser o meu monstrinho, ta?
- Ta legal!

Foi tão lindo e sincero o jeito que ele disse que eu passei a amar o apelido. Então ele disse:

- Eu estou passando por um sério problema, sobre qual não quero falar, e foi muito bom encontrar alguém como você no meu caminho, foi um dia inesquecível, quero te ver de novo, pode ser?
- Claro que pode ser!

Mal sabia ele que tudo que eu mais queria naquele momento era ouvir aquilo, ouvi-lo dizer que queria me ver de novo.
Ele pediu um papel e uma caneta no bar onde estávamos tomando suco e escreveu a seguinte frase: “Monstrinho, você é assustadoramente especial, inacreditavelmente diferente. Foi bom conhecer você, me liga.” E colocou o telefone no bilhete. Ele me levou até o ponto do meu ônibus e me deu um beijo na testa. Fui pra casa sonhando... Ele tinha um pouco do Betinho no seu jeito alegre e louco de ser.
Passou uma semana e resolvi ligar, relutei muito para não ligar, mas sentia que precisava vê-lo novamente. Liguei e tive uma agradável surpresa, ele ficou tão feliz com minha ligação e disse:

- Monstrinho! Que bom que você ligou. Estava com medo de você ter perdido o papel, quero muito te ver, eu preciso muito te ver!
- Também queria te ver, por isso liguei.
- Você está fazendo o que agora?
- Como assim? Agora?
- É. Nesse momento.
- Nada, falando com você no telefone.
- Eu sei monstrinho. Eu quero saber se você tem alguma coisa pra fazer agora, na hora do almoço.
- Eu não!
- Vem almoçar comigo aqui em casa. Pega uma caneta e um papel que eu vou te passar o endereço.
- Mas seus pais estão em casa? Você não está sozinho não, não é?
- Não to sozinho não. Meus pais e irmãos estão aqui, pode vir.

Eu relutei, porém fui! Quando cheguei fiquei feliz, a casa estava cheia de gente, conheci a mãe dele, os irmãos... Nossa amizade era linda, ao meu lado ele parecia um garotinho de 5 anos, mas na verdade quem era a menina era eu, que tinha acabado de completar 15 anos. Ele já estava com uns 19 ou 20 anos. Tudo era tão real e sincero entre nós que a saudade machucava o peito, mas como não podia ser diferente, eu, a Sandrinha, sempre era tratada como a menina legal, que era ótima companhia, ótima parceira, mas sempre era dispensada como a namorada.
Eu fazia todos eles se sentirem valorizados, era amiga e compreensiva (acho que esse era o problema). Mas também tive um monte de meninos que me amavam tanto, tanto de dar pena. Acho que nós, seres humanos somos todos iguais nisso, só valorizamos o que não podemos ter.
Eu e o Tony passávamos as tardes de quarta e sexta no shopping de Nova Iguaçu jogando totó, bebendo refrigerante. Nossa amizade durou 3 meses, 3 meses de intensa alegria, até que um dia, Tony me chama pra conversar sério. Confesso que pensei que ele fosse me pedir em namoro, minha ansiedade era imensa, contava as horas para vê-lo. Nos encontramos no shopping, como sempre, mas nesse dia ele me levou para um outro lugar, um barzinho bem aconchegante, sentamos um de frente para o outro. Havia algo em seus olhos que me parecia um misto de dor e ternura. Podia ver em seus olhos um adeus. Pedimos suco de laranja. Então ele disse:

- Monstrinho, você foi a melhor coisa que me aconteceu nos últimos tempos, você me da alegria, me faz passar horas felizes, como a muito tempo não acontecia.
- Tony, o que você ta querendo dizer? Você está com algum problema? Posso te ajudar?
- Não olhe para trás, não demonstre nada, a minha namorada está vindo.

Naquele momento eu me segurei para não agir de maneira egoísta e passional, foi um choque pra mim, afinal eu nem imaginava que ele tinha namorada. Então ela entra, para atrás de mim...
Ela era linda. Morena, cabelos longos, corpo escultural, bem vestida, e eu com aquelas roupas imensas e largas, tranças no cabelo. Foi aí que eu percebi que os homens podiam amar uma pessoa, mas na verdade só namoram com “mulheres” e não com “pessoas”. Então ela disse:

- Oi Tony! Tudo bem?
- Oi Meire, deixa eu te apresentar minha amiga, Monstrinho.
- Oi. – ela disse – Monstrinho? É apelido, não é?
- É sim. – respondi.
- Ah ta! – exclamou ela.
- Bem... Eu vou embora, pois já ta na minha hora. – disse eu – Foi um prazer conhecer a namorada do Tony.

Saí dali com sem rumo, com a mente nas nuvens, o coração apertado e baixa auto-estima. Estava andando sem rumo quando ouvi gritos ao longe, chamando por Monstrinho. Eu estava andando colada com a linha do trem de Nova Iguaçu, olhei para frente, pro lado, pra trás e não via ninguém, foi quando a voz gritou: “olha pra cima.” Eu então vi o Tony correndo como um louco pela passarela gritando: “monstrinho, me espera. Eu te amo!” E aquela frase me comoveu, era tudo que eu queria ouvir, percebi que também poderia ser amada, não por ser linda, mas por ser exatamente como sou. Esperei, e quando ele chegou perto me abraçou chorando, e disse:

- Vamos nos sentar em um lugar calmo, a gente precisa conversar.
- Tudo bem.

Sentamos na escada da estação de trem, eram mais de 18h e o movimento estava tranqüilo. Então ele disse:

- Quando sentei com você no barzinho era pra abrir meu coração, te contar um monte de coisas, mas eu não conseguia, pois eu sabia que iria te ferir.
- Faz mal não, pode falar.
- Eu namoro a Meire há 5 anos, mas com o tempo foi desgastando. A gente só ficava juntos pra transar, o resto do tempo eram brigas, eu nunca passei um dia com ela como passei com você, feliz de verdade.
- Por que você não falou logo no inicio que você tinha namorada?
- Não sei! Eu não queria estragar tudo, estava vivendo uma coisa diferente, e também não achei que pudesse gostar de você, achei que seriamos amigos pra sempre, mas agora descobri um sentimento forte e intenso por você, porém não vou continuar te enganando, vou falar pra você toda a verdade. A Meire está grávida de 3 meses e a família dela está cobrando casamento.
- Poxa! Tony, isso é muito sério. Vocês são responsáveis por essa vida, você tem que ajudar e apoiar ela nesse momento, e a melhor coisa pra nós, é não nos vermos mais.
- Não! Por favor! Não me diga que não vamos mais nos ver. Eu preciso de você pra me ouvir, pra me dar um pouco de alegria.
- Cara, você está sendo egoísta. E a minha alegria? E a da Meire? E a do bebê? Eu não posso ficar do lado de alguém que quero como namorado, apenas como amiga. A Meire precisa de você, e o bebê, de um pai. Vamos esquecer que nos conhecemos, e quem sabe um dia, depois da dor ter passado, a gente se esbarre.

Assim, em lágrimas, dizemos adeus, mas nunca esqueci toda essa história.