quinta-feira, 27 de maio de 2010

Escapando de um Estupro

A Angélica foi me procurar para que eu voltasse a sair com ela. E todos queriam saber o motivo do fim do meu namoro com Walmir, afinal de contas eramos um casal incomum, estávamos sempre sorrindo juntos, dançando juntos, sempre felizes, e tinhamos muita afinidade...

- Sandrinha, ninguém consegue entender o fim do namoro de vocês. - disse Angélica - Pois o Wal anda muito triste, achamos que ele sente muito sua falta.
- Também fiquei triste com o fim de nosso namoro. - eu disse - Mas as pessoas deixam de gostar uma das outras, isso acontece.

Na verdade eu não toquei no verdadeiro motivo do fim do namoro com ninguém, eu respeitava o Wal e não queria ve-lo sofrendo discriminação, humilhação e preconceito, afinal de contas, ele era meu melhor namorado, e eu até cantava a música do Kid Abelha, "os outros" para ele: "Procuro evitar comparações entre flores e declarações, eu tento te esquecer... a minha vida continua, mas é certo que eu seria sempre sua, quem pode entender? Depois de você, os outros são os outros e só."
Voltei a frequentar o New Club com as meninas de Nova Iguaçu. Lá estava eu recomeçando... No início foi muito difícil, para onde eu olhava, via lembranças do meu melhor namorado, nada tinha graça sem a alegria, o sorriso e a compania dele. Quando tocava The Cure a dor era tanta que eu não conseguia dançar, sentava e ficava em transe até a música acabar. No nosso ciclo de amigos do clube havia um rapaz branco, gordinho, de cabelos escuros, chamado Marcelo. As meninas adoravam ele, diziam ser um cara inteligente, tinha carro, e sempre tinha dinheiro para pagar bebidas e lanches para elas. Mas eu não conseguia gostar dele, tinha um pressentimento, alguma coisa estranha. Além de que ele sempre se gabava das mulheres que saia com ele, e contava vantagem. Era sempre aos domingos que ele aparecia por lá, e num desses domingos eu fui ao clube quase que forçada, tive um pressentimento muito ruim e forte, fiquei confusa se era um pressentimento ou se era saudade do Wal, se eu estava triste porque sabia que mais uma vez sua falta ali naquele lugar era dolorida demais pra mim. Mas foi assim mesmo, e para mim aquela não era uma noite como outra qualquer, realmente minha compania estava péssima, eu estava quieta demais, e nada fazia eu me sentir melhor. Era como se eu vissetudo diferente ao meu redor, as pessoas dançando, sorrindo, se divertindo, e eu me sentindo sozinha e aflita. Derrepente minha tristeza foi esquecida por um momento, quando o DJ da casa chamou a atenção para um concurso de calouros, a cada apresentação a reação da galera era muito divertida e eu quis cantar também, e fiz... cantei a música "como eu quero" do Kid Abelha, me lembro que tremia muito e me divertia bastante vendo a galera cantar junto. A brincadeira acaba, volto eu pra minha triste realidade, a falta que o Wal me fazia e aquela angústia estranha no peito. Fui para perto das meninas que estavam com o Maecelo, sentadas na mesa que ficava ao redor da piscina, elas pareciam muito felizes... 1h da manhã, hora de ir embora. Me juntei às meninas que disseram:

- Sandrinha, vamos pegar carona com o Marcelo.
- Mas vocês moam tão perto, da pra ir apé. - eu disse.
- Mas pra quê andar se podemos chegar mais rápido e com segurança, indo com o Marcelo? - disse Helena.

Naquele momento eu me senti acoada, o que fazer? Ir a pé sozinha por aquelas ruas desertas e escuras ou ir com elas? A segunda opção parecia mais certa, e assim entrei no carro com as meninas. O Marcelo deixou a Helena em casa, depois a Kátia e depois a Angélica. Eu não entendi muito bem porque a Helena insistia que eu fosse de carro com ele. Meu coração estava angustiado, havia algo errado, havia um clima pesado... o Marcelo segue com o carro, somente eu e ele dentro. Rodou com o carro, parecendo não ter um rumo certo. Rodou, rodou, me deixando cada vez mais nervosa e desconfiada de que algo estava errado. Até que ele me levou para uma rua deserta, muito escura, na estrada de madureira, não passava carro nenhum. Tinha uma casa quebrada, uma ruina... naquele momento eu entendi o que iria acontecer. Assim que parou o carro, parecia ter sido dominado por algum espírito malígno, ficou transfigurado e disse:

- Escuta aqui, eu te trouxe aqui para que você faça tudo que eu quiser, e se não obedecer eu te mato!
- Não, por favor não! - respondi desesperada - Eu sou virgem, nunca transei, tenho medo!

Mas parecia que quanto mais nervosa eu ficava, mas ele tinha força. Derrepente ele tenta colocar a mão no meu seio e com a outra mão pega na minha para levar até seu pênis, eu então entro em desespero, uma mistura de medo e nojo, muito nojo. Eu reluto, puxo minha mão e grito. Ele então me da um tapa, rasga minha blusa, me xinga e grita muito. Por um momento passou pela minha cabeça que eu lutaria e então amanheceria morta ali e que, talvez, minha mãe nunca mais teria notícias de mim. Foi quando a voz que sempre fala comigo me disse:

- Ele vai falar algo e você finja que vai aceitar, que vai ficar tudo bem, finja que vai obedecer. É a única maneira de escapar.

Nesse mesmo momento em que eu ouvia a voz, ele para olhando para as ruinas da casa e diz:

- Olha aqui, vou te levar para um lugar, você vai fazer tudo que eu mandar e depois eu largo você. Do contrário, eu te trago aqui e te mato. Ouviu?
- Ouvi, ouvi sim. Tudo bem.

Ele então segue para um motel. Já na entrada, eu disfarçando tentei abrir a porta do carro, ele percebe e fica furioso, e diz "não tenta de novo, não tenta!" Mas uma vez fingi que estava fazendo o que ele mandava. Entramos no motel e percebi que os seguranças olhavam estranho, preocupados, como se soubessem o que estava acontecendo. Pensei comigo mesma que naquele dia iria perder não só a minha virgindade, mas meus sonhos, minha pureza, minha dignidade e minha vida. Só conseguia pensar em minha mãe, meu pai, meus familiares...
Entramos na garagem, pensei ser o fim, pensei que não teria mais chances de escapar, foi quando a voz mais uma vez se manifestou, dizendo o que fazer, e eu fiz, sem saber como, sem entender até hoje como eu consegui disfarçar e pegar a chave do quarto, segurei a chave, escondendo-a... o mais estranho era que tinha um enorme chaveiro redondo na ponta, que não dava pra esconder. Marcelo gritou "sai do carro! Sai do carro! Espera na escada." Saí sem nada a dizer. Ele ficou procurando algo no carro e disse: "Cadê a chave? Cadê a porra da chave?" Naquele instante eu senti medo que ele percebesse que a chave estava comigoe fiz mais uma vez o que a voz mandou e disse: "Tudo bem, eu te ajudo a procurar." E lentamente fui me aproximando do outro lado do carro, da porta do carona. Não entendi porque ele não esboçou nenhuma reação ou atitude. Foi quando a voz me disse que eu me jogasse no chão com a cabeça para fora do portão, pois não tinha como correr, pois o portão estava quase fechado. Me joguei e ao mesmo tempo gritei. Ele me pegou por trás, tampou minha boca e nariz, fiquei sem ar enquanto lutava para não entrar no carro novamente. Ele abriu a porta do carro, e eu então chutei, fechando novamante, então aparece um segurança armado gritando "O que está acontecendo aqui?" Então Marcelo me joga na parede com muita força e diz "Essa mulher é louca!", entra no carro e sai. Eu, em desespero, me jogo na frente dos carros que saiam do motel... não posso esquecer os olhares das pessoas assustadas e, ao mesmo tempo lutando para não me ajudar, saindo as pressas. Foi quando uma camareira veio e me pegou, Me deu água com açucar, conversou muito comigo... eu me lembro que chorei muito e falei pra ela que era virgem, que não queria magoar meus pais e não queria que minha mãe me visse morta numa estrada qualquer. Ela me colocou num quarto e disse: "Filha, fica calma, você agora tá segura. Assim que amanhecer, um de nossos seguranças vai te levar num ponto de ônibus e você vai para casa." E assim aconteceu...
Durante longos anos escondi esse fato de minha família, pois não queria vê-los tristes. Mas hoje em dia costumo narrar, para que as meninas dessa faixa etária peguem carona jamais. Ele era meu conhecido a 3 anos, frequentavamos os mesmos clubes, e assim mesmo eu não poderia imaginar que ele era aquele monstro. Espero que isso tenha servido de lição para ele.