terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Uma descoberta surpreendente

A vida é assim mesmo... um dia estamos cercados de amigos legais ou namorando alguém especial, e no outro, lá estamos nós sozinhos novamente, as vezes mais feliz, e em outras vezes, mais tristes.
Bem, mais uma vez pessoas iam embora da minha vida para nunca mais voltar, como o Max e sua família, e novamente tudo o que eu tinha eram as minhas raízes, minhas velhas amizades que não passavam, estavam sempre alí, firmes...
Carrego comigo o dom de fazer amigos da mesma maneira que preservo velhas amizades, na verdade, gosto mesmo é de ter muitos amigos de várias classes sociais, raças e pensamentos diferentes. Gosto de observar e aprender. Assim continuei minha busca por novos amigos...
Comecei a ir para a Gerus sozinha, pois as meninas estavam namorando firme e já não iam com frequência aos bailes.
Eu era destemida e determinada e tinha facilidade de me comunicar, e meu objetivo era fazer amigos para me divertir e dançar. Foi num desses bailes que eu coheci Angélica e Katia. Elas estavam dançando em passinhos e eu me juntei a elas pra dançar. Me lembro que gostei da Angelica de cara, já a Katia era apenas a questão dela ser amiga da Angelica. Dançamos até vir a hora da musica lenta. Foi nessa hora que a Angelica disse "vamos tmar um refri?". E assim fizemos. Sentamos na mesa do bar que ficava dentro da danceteria e começamos a conversar.

- Adorei seu cabelo cheio de trancinhas - disse Angelica.
- Eu também adoro tranças. Minha mãe faz essas tranças em todas as meninas da minha rua e eu odeio meu cabelo, é muito liso, fica caindo na cara, me incomoda - eu disse.
- Eu não gosto de ficar perdendo tempo com cabelo, por isso corto curto - disse Katia.

O cabelo dela realmente era bem curtinho, já o da Angelica era bem liso, muito preto e batia acima do bumbum...

- Eu acho que sou diferente de vocês duas - disse Angelica - Não consigo nem pensar em cortar meu cabelo, adoro cabelos longos e lisos... mas vamos mudar de assunto, né? Sandrinha, quais as bandas que você mais curte?
- Sou eclética, gosto de tudo um pouco - disse eu - Mas sou fã mesmo de The Cure, Legião Urbana, Supla, Uns e Outros, Nenhum de Nós, Plebe Rude, e adoro o Dr. Silvana (risos).
- Caramba! - Exclamou Katia - Gosta de todas essas bandas de rock e também do Dr. Silvana?
- Eclética mesmo - disse Angelica - eu também adoro Dr. Silvana e cia.
- Sou eclética mesmo! - eu disse - Adoro Silvinho Blaublau, Alberto Brizola, Léo Jaime, Lobão, Djavan... na maioria das vezes curto música nacional, mas também amo os Menudos...
- Começou a música pra dançar, vamos voltar pro salão. - disse angelica.

Estávamos dançando na pista de música internacional, onde o pessoal dançava break, quando dois meninos se aproximam... Marquinhos e Telson. Marquinhos era alto, devia ter 1,80m de altura, magro e muito desengonçado, já Telson era lindo, 1,70m mais ou menos, olhos esverdeados, um corpo definido... mas os dois eram igualmente adoráveis. Se aproximaram de nós para acompanhar o passo e, logo já eramos um grupo de amigos que se encontrava todo sábado no mesmo local.
Em um fim de semana desses foi que apresentei os meninos pro meu irmão. Eles tinham em comum o break e logo ficaram super amigos, começaram até a frequentar minha casa.
Minha mãe adorava Telson, ele fazia tudo para agradá-la, até que um dia ele veio me pedir em namoro e eu não quis. Minha mãe e meu irmão ficaram super chateados, eles achavam que ele era um cara legal. E era. Mas eu queria apenas sua amizade. Eu adoro a idéia de um grupo de amigos todo fim de semana dançando, batendo papo. Não queria ter alguém me prendendo, não queria enganar ninguém, eu nem pensava em namorar mas ninguém, o Tony ainda estava bem vivo em meu coração e ia demorar um pouco pra esquecer o quanto sofri, o quanto o quis. E foi assim que mais uma amizade se desfez. Angelica veio conversar comigo, pois percebeu em um dia que nem me aproximei dos meninos, e nisso eu expliquei minha situação para ela e decidimos apenas dançar.
Dançamos até umas 02:00 e meu irmão não apareceu no baile nesse dia. Fiquei sem companhia pra voltar pra casa.

- Angélica, to ferrada! - eu disse - Meu irmão não apareceu e vou ter que ir andando pra casa sozinha.
- Você pode dormir la em casa - ela disse - a gente da um jeito.
- Seus pais não vão achar ruim?
- Não, fica tranquila.

Saimos da Girus umas 4 da manhã e fomos para a casa da Angélica, que ficava na estrada de madureira (Nova Iguaçu) ao lado da faculdade e a casa da Katia ficava em frente.
No dia seguinte, um domingo, fomos na casa da Katia... nunca vou me esquecer desse dia... eu tomei banho na casa dela e derrepente ela apareceu na sala dizendo pra todo mundo que eu usava argolas feitas co ferro de Durmabem. Era verdade, eu não tinha dinheiro para comprar bijuterias, ai fazia argolas desse ferrinho, mas fiquei muito triste, me senti muito humilhada. Não consigo esquecer a cena, todos sentados na imensa sala assistindo Silvio Santos...
Sai da casa dela como fugida, as pressas, não estava contendo a dor de ser humilhada. Foi então que Valmir, irmão dela veio falar comigo. Ele saiu da casa gritando "Sandrinha, Sandrinha!" Eu fingia que não ouvia e fui para o ponto de ônibus esperar meu ônibus passar. Valmir senta do meu lado e diz:

- Sandrinha, não liga pro que Kátia diz, ela é uma menina mimada e futil.

Fiquei um tempo calada, perdida, tentando achar um motivo para que as pessoas façam coisas desse tipo, magoar e ferir outras pessoas assim, sem razão. Mas derrepente voltei pra realidade com o Valmir me falando de seus problemas, tristezas... pensei "Caramba, esse menino que tem tudo o que quer também tem suas lamentações. Foi então que falei:

- A katia realmente me entristeceu, pensei qe era menina humilde.
- Sandrinha, não importa o que a Katia é ou deixa de ser, o que importa é o que você é! E você é uma garota muito legal, não importa se não tem dinheiro para andar na moda ou usar jóias.
- É, eus ei... pra mim isso também não importa, mas fico triste porque as pessoas se importam, elas não olham pra dentro de cada um , mas julgam pelo exterior...
- Eu olho pro interior! E queria muito ter sua companhia para conversar, sair, dançar... você quer namorar comigo?
- Como assim? Assim sem mais nem menos começar a namorar com você?
- É, assim! Mas vamos fazer o seguinte: não precisa me beijar, abraçar, nada disso agora. A gente sai, se diverte, dança, conversa, você conhece meus pais e a gente só faz aquilo que você quiser fazer. Topa?
- É, acho que assim pode ser!
- Legal, então vou te levar em casa.
- Tudo bem.

E assim ficamos dois meses, raramente davamos um beijo, mas nos divertiamos muito juntos, eu o amava de uma maneira especial, ele me fazia acreditar mais em mim, e fazia companhia em momentos tristes ou alegres, e tinha um abraço doce e fraterno, parecia que queria me proteger do mundo em seus braços. Mas boatos circulavam que ele era gay, as pessoas riam de mim quando eu passava com ele, e eu já desconfiava, tinha certeza que ele era gay, mas como eu não pensava em iniciar uma vida sexual, não me importava, até preferia um namorado que não quisesse transar, com ele eu me sentia querida de verdade, pois eu sentia em cada gesto, em cada abraço o quanto ele realmente se sentia bem ao meu lado, isso era real. Lembro-me como se fosse hoje. Era uma noite fria, estávamos no New Clube, ele sentou na minha frente, estava tocando The Cure... Ele olhou nos meus olhos e perguntou:

- Sandrinha, se você namorasse uma pessoa e descobrisse que ele era gay, mas nunca te traiu com nenhum homem, mas antes de você saia com homens, você entenderia?
- Claro que entenderia, as pessoas não podem ser julgadas pelo que fizeram, mas pelo que fazem no momento que estão com você.
- Você é realmente uma pessoa surpreendente, adoro você!
- Também adoro você!

Nesse momento começou a tocar Boys Don't Cry - The cure. Ele me puxou para o meio do salão e dançamos até pingar de suor. Mas aquela noite parecia ser a nossa despedida, talvez ele queria dizer adeus, mas não sabia como fazer.
Depois desse dia, não o vi mais. Ficou sem me procurar dias, semanas... Eu também não o procurei, respeitei sua ausência, acho que no fundo entendi tudo, sabia que aquele dia tinha sido uma despedida.
Fui então ao baile da Girus com as meninas do Bom Pastor. E como sempre acontecia após o baile, ficamos sentadas na rodoviária de Nova Iguaçu esperando a hora do ônibus. Eu estava ali, sentada no meio-fio, quando vi ao longe três lindos travestis e geral mexendo com eles. E eu não acreditei no que vi: o Valmir vestido de mulher. Ele tentou se esconder de mim, mas eu corri gritando:

- Espera, espera!

Ele ficou de cabeça baixa, com vergonha de me olhar nos olhos. Então eu disse:

- Val... não precisa ficar triste e nem com vergonha.
- Desculpa Sandrinha. Eu não queria te magoar.
- Val, isso não muda em nada o meu respeito, minha admiração, meu carinho por você! Você foi o melhor namorado que tive, aquele que me fez sorrir, me fez companhia nas horas difíceis, aquele que realmente gostava de estar comigo e o melhor, não tinha nenhuma intenção por trás de tudo...
- Eu gosto demais de você, Sandrinha. Mas não queria continuar te enganando. Mais cedo ou mais tarde você irá despertar para a vida sexual e eu não seria bom pra você.
Talvez você até tenha razão, mas você foi e será eternamente alguém especial para mim. Amo você de uma maneira pura e verdadeira, que talvez nunca mais amarei, diferente de tudo que vivi.
- Obrigado Sandrinha. Eu sinto o mesmo por você.

Nesse momento cairam lágrimas de seus olhos borrando o preto de sua maquiagem. Eu o abracei, beijei no rosto e disse adeus... e então o vi indo embora de minha vida. Mais uma vez alguém especial estava saindo da minha vida e eu ficando sozinha novamente.