segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Aprendendo a valorizar o que realmente tem valor.

Nos dias em que minha mãe esteve internada, sem dizer uma palavra se quer, ela me deu uma lição de vida que nunca mais esqueci.
No hospital, ela pedia aos pacientes copinhos e colheres das sobremesas, lavava bem e juntava num saco para nos entregar e dizia:
-É pra dividir com as meninas da rua.
Isso me marcou muito, pois naquela época não podíamos ter panelinhas, pratinhos de brinquedo, e aqueles copinhos e colheres nos proporcionavam uma grande alegria para brincarmos de comidinha. Com esse gesto, aprendi que ás vezes, um pequeno gesto mostra o quanto alguém se importa com a gente, não é o valor do material, mas o valor da lembrança.
Minha mãe, não nos esquecia, nem ali, num momento tão difícil pra ela.
Talvez, se ela tivesse dinheiro, e tivesse comprado panelinhas de brinquedo, não teria me ensinado tanto como me ensinou.
Sair do meu mundinho, do Bom Pastor foi um duro despertar.
Eu achava que poderia seguir os passos de meus pais, da minha mãe Adelaide e de minha avó Euvíra, essa para mim era linda, uma mulher de setenta anos, com gestos de criança, pureza de criança. Eu dizia que quando ficasse velhinha queria ser como ela, sempre cercada de crianças e adolescentes. Ela adorava contar histórias lá do Ceará, sua terra, cantar suas canções preferidas.
Era uma mulher de extrema fé, usava um terço branco florescente no pescoço que não tirava pra nada, era conhecida como Olívia Palito, pois era muito magra, alta, e usava cabelo chanel.
Todos os dias, ela ia até a nossa escola levar nossa merenda, pão com ovo.
Éramos muito humilhados, pois todas as crianças tinham dinheiro para comprar doces e merenda, e nós, não, mas eu tinha uma avó especial, que era conhecida e querida por todos, ela ganhava convites para parques, circos, mesmo sem ter um centavo, nós íamos a muitos lugares, ainda ganhávamos pipocas, sorvetes.
Alem da minha avó de sangue, eu tinha minha querida avó Maria, uma pretinha de meio metro, magrinha, que sempre usava um lenço na cabeça.
Todas as tardes, minha avó Maria me esperava pra tomar café com ela, para me contar lindas histórias, foi com ela que descobri sobre sereias e orixás, nossas tardes eram muito gostosas, eu amava, sinto falta de toda a pureza e simplicidade daquela época.

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