segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Em meio às dificuldades, lições de solidariedade.

Apesar de todas as dificuldades, para nós ali era o melhor lugar do mundo.
Ali aprendi valores que carrego até hoje comigo, conheci pessoas, que mais parecem ter saído de contos de fadas, pessoas especiais como minha mãe preta, que tinha o sonho de ser medica ou enfermeira, mas como teve uma infância muito pobre, na roça, não pode estudar, depois de casada, e com filhos, começou a fazer o que mas gostava na vida, ajudar ao próximo, trabalhando de voluntária em diversos hospitais, amada e querida por todas as equipes médicas por onde ela passava.
Quanto minha mãe de verdade, essa também passou a vida se doando em prol do próximo.
Desde o gesto mais simples, ao mais sacrificante, um gesto simples, que me recordo ter um grande valor, era o fato de dividir o nosso óleo de amêndoas, para cabelos, com as meninas da rua. Minha mãe sentava nas ruínas da nossa varanda e começava a trançar nossos cabelos, os de Luciana, Vilma, Denise e Rose. Minha mãe adorava cuidar das meninas, vê-las bonitas e felizes.
Meu pai também era uma figura singular, o português que ficou pobre de tanto ajudar os outros, contrariando tudo que se fala sobre portugueses.
Ele era como um pai, um mantenedor para as crianças da rua, que quando avistavam o velho caminhão azul, bem longe, na curva da Bayer do Brasil, já começavam a gritar:
- Lá vem o português! Lá vem o português!
E assim, o morro ficava em festa, pois sempre que meu pai vinha do Ceasa, trazia frutas, queijos e verduras para distribuir para as famílias da rua.
Lembro-me de uma certa vez em que ele fez um frete para uma fabrica de sapatos, e não cobrou em dinheiro, cobrou em mercadorias, pediu ao dono da fabrica, que desse a ele, sapatos com pequenos defeitos, para doar para as crianças.
E quando ele chegou com os sapatos, mais uma lição de vida nos deu, queríamos escolher mais sapatos, porque éramos filhos dele e achávamos que isso nos dava um direito maior, e ele nos ensinou que devemos dividir, não devemos ser egoístas e mesquinhos.
Ele disse:
- Vocês são meus filhos, mas precisam igual às outras crianças, nem mais, nem menos, então devemos dividir igualmente para que as outras crianças também possam ficar felizes.
Tenho orgulho desse guerreiro, mais conhecido como Chico Maluco, que era de uma loucura fascinante, puro como um menino, contraditório, pois de sua boca saia os mais horrendos palavrões, e de suas mãos os maiores gestos de amor ao próximo, e de grandeza de ideais. Um homem cabeludo, descabelado, de botas, casaco de couro, semblante rude e desbocado, mas com o coração mais mole que já vi. Ajudava a todos, era o único que tinha carro nas redondezas e levava todo mundo no medico, amava os animais e deixava de comer para doar a quem tinha fome, e até mesmo para os animais.

Nenhum comentário:

Postar um comentário