segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Chegando ao Bom Pastor

O Ano é 1979, mas parece que foi ontem que chegamos ao Bom Pastor.
Fecho os olhos e quase posso sentir o cheiro do barro molhado e contemplar o verde das matas, e o vermelho do barro.
Saímos da Cidade de Deus, em Jacarepaguá, onde morávamos de favor, e finalmente estávamos festejando a nossa casa própria.
Apesar das muitas lutas, a história de amor de meus pais era um orgulho para nós, um lar cheio de ternura e respeito, e principalmente amor.
Ali estava a minha mãe, a garota da Zona Sul, culta, cheia de boas maneiras, acostumada com uma vida social, indo para o Bom Pastor, um lugarzinho distante, simples, sem recursos algum, sem água encanada, sem luz.
Tudo por amor ao meu pai, um português motociclista, aventureiro, cabeludo, descabelado, e desbocado, mas com o coração mais puro que já conheci na vida.
Na boleia do velho caminhão azul do meu pai vínhamos eu e meu irmão Alexandre e na frente, minha irmã mais nova, Beth, ao lado dos nossos Pais.
Assim que avistei o Bom Pastor, uma sensação de felicidade invadiu meu coração, não sei se esse sentimento era por saber que estávamos indo pro que era nosso, ou se eu estava prevendo que ali eu passaria os anos mais marcantes e belos da minha vida. Para minha mãe, era a terra do sol nascente, onde um novo sol nascia pra ela.
Para mim, era a terra, das minhas raízes, onde eu plantaria e colheria os frutos de uma vida.
Logo que chegamos, minha mãe conheceu Adelaide, a mulher que se tornaria a melhor amiga de toda a sua vida.
Estávamos em casa, arrumando as coisas, quando alguém coloca a cara na janela e diz:
- Só faltava essa! Agora temos uma branca azeda na rua! - Disse isso rindo, e entregou um pedaço de bolo de fubá pra minha mãe, que respondeu rindo:
- Quase achei que estava numa senzala! - Adelaide ri, e como não podia deixar de ser, da mais uma espetada:
-Não vai comer o bolo não?! Porque, não come comida de negro?
Minha mãe responde:
- Obrigada, e se não tiver bom, te ponho no tronco e dou uma boa surra, pra aprender a cozinhar! (muitos risos)
A partir daquele dia, ambas se tornaram quase irmãs de sangue, sempre uma ajudando e amparando a outra, uma amizade linda e verdadeira que já dura 30 anos.
Primeira semana em Bom Pastor... Chegou a sexta feira, dia em que todas as mulheres se reunião pra lavar roupas. Minha mãe era a única mulher branca da rua, e quase do bairro todo, acho que ela aprendeu muito com aquelas grandes guerreiras.
Para chegar ao lago onde se lavava as roupas, andávamos entre trilhas de matas e morros.
Para as crianças, era um dia de festas. Enquanto as mães trabalhavam, nós caçávamos borboletas, arrancávamos tomates do mato pra comer.
Foi na primeira semana após a chegada, num desses encontros em que as mulheres da rua ponta negra se encontravam, que minha mãe, conheceu Laurinda e Marilsa.
E lá iam as mulheres com trouxas na cabeça, e baldes na mão...

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