terça-feira, 18 de agosto de 2009

Cena Macabra

Cena Macabra

Tempos depois...
Fim de semana seguinte lá vou eu para a casa da Verinha, para sair com ela e as panteras negras, era a noite da caravana do amor. Eu estava mais eufórica do que nunca, afinal, era a noite em que eu veria de perto o Alberto Brizola e ainda participaria do concurso de cover dos Menudos e meu irmão participaria do concurso de break. A Nina, como sempre, me enfeitou toda. Ela era como uma irmã mais velha, sempre cuidando de mim, querendo me ver bonita e feliz. Lá fomos para o clube Las Vegas, que ficava no centro de Belford Roxo. O clima era contagiante, rodas de break em toda parte, cada grupo mais estiloso que o outro, cada um mandando mais que o outro, mas tudo num clima de amizade e paz. Lembro-me daquela noite com uma imensa nostalgia. Posso sentir a emoção que me causou só de lembrar, e me transporto a tal ponto do meu coração disparar de saudades... Aquela musica, aquelas luzes, meus amigos... Eu estava hipnotizada olhando a roda de break, quando o clima é quebrado pelo apresentador do evento anunciando o Alberto Brizola. Um fato marcante aconteceria comigo. Aquela seria a noite em que eu ganharia minha primeira rosa, que é minha flor preferida. Alberto Brizola começa a cantar a musica “Menina”, e eu boquiaberta, colada no palco, quase que babando, enfeitiçada, pois ele parecia cantar pra mim. Foi quando, de repente, ele me estendeu a mão e me deu uma linda rosa vermelha e um beijo na mão, olhando bem dentro dos meus olhos. A emoção era tanta que eu nem cabia dentro de mim, não me contive e chorei. Na época eu pensava que era por causa do Alberto, mas hoje tenho duvidas, se foi por ele ou pela rosa, pois sou fanática por rosas vermelhas. A minha viagem foi interrompida, por gritos e zoação do pessoal do The Break City e pelas meninas das panteras Negras, dizendo:
- Aeee, alguém nem vai dormir hoje!!
E foi realmente o que aconteceu, não só comigo, mas com o pessoal do The Break City que ganharam o primeiro lugar na mesma noite, e ganharam o prêmio em dinheiro. Esse dia foi muito especial para todos nós. O meu irmão e o grupo pararam numa barraca de cachorro quente e pagaram lanches pra todos para comemorar a vitória. Naquela época, nenhum de nós bebíamos bebidas alcoólicas, nos só queríamos dançar e paquerar.
Semana seguinte... Sexta feira... Vou para casa da minha tia Irani, em São Vicente, lugar
Que ela mora até hoje. Minha querida tia Irani, era muito mais que uma tia, era uma grande amiga, me dava conselhos, gostava de ouvir minhas historias, ler minhas poesias, incentivava meus dons para pintura e desenho, aliás, até hoje tem um quadro pintado por mim aos 12 anos, e um velho caderno de poemas da mesma época.
Nessa sexta, eu fui para dormir lá, para ir a uma festa com a Mônica e a Rosana, filhas de uma vizinha de minha tia, mas no dia seguinte fui bem cedo pra casa, pois estava preocupada com o Felipe, meu gatinho amarelo, eu era completamente apaixonada por ele.
Levantei cedo, fui na padaria, fervi leite, coloquei a mesa e chamei meus tios pro café como sempre eu fazia quando estava lá. Tomei meu café e segui a pé, uns 5 quilômetros, até o Bom Pastor. Ao chegar no inicio da rua ponta negra, no pé do morro, vejo o Zé Carlos, filho da Dona Marilsa, com metade do corpo pra fora da janela gritando muito desesperado, em minha direção:
-Sandrinha, Sandrinha! Mataram meu irmão, mataram meu irmão Beto, Sandrinha.
Eu não tive nem o que dizer, não sabia como, e nem podia ajudar, apenas interroguei:
-Onde? Quando?
Chorando muito, ele me respondeu:
-Ontem à noite, o corpo está lá na ponta do morro, acabaram com ele!
Eu saí desnorteada, mil pensamentos e lembranças me vinham à cabeça. Beto, assim que chegamos no Bom Pastor, ainda bem garotinho, ajudava minha mãe com as bolsas de mercado, carregava água para minha mãe, era quase que um irmão pra gente, senti muita dor em meu peito, pois a nossa vida já era tão dura, fome, dificuldades, e ele morre assim, sem ter tempo de conhecer outra vida, ter outras oportunidades, ele não teve escolha.
Cheguei em casa e perguntei a minha mãe:
- Mãe, você sabe porque isso aconteceu, você ouviu alguma coisa a respeito?
Minha mãe responde:
- Não se sabe de nada, a única coisa que se sabe é que ele está morto, nada mais.
Eu disse:
- Vou lar ver o corpo
Minha mãe disse me recomendando:
- Acho melhor você não ir, você pode ficar chocada.
Eu, não escutei, e segui até o pé do morro, e ao chegar ao local me deparei com uma das cenas mais macabras que já vi na minha vida, não havia partes inteiras do rosto dele, só pedaços por todas as partes, e cães brigando pelos pedaços dele.
Dona Marilza demonstrava sua dor, sem derramar uma lagrima, mas podíamos ver o quanto ela sofria, aquela mulher tão guerreira, honesta, e boa, não merecia presenciar aquela cena, mãe de 8 filhos, Beto era mais velho, e a ajudava com as despesas da casa, e pelo que sabemos, era bom filho e bom pros seus irmãos pequenos.
Esse ocorrido foi um mistério na época, e assim continuou, e continua até hoje, foram contadas varias versões, tipo, que ele se envolveu com uma mulher casada, e que foi um crime passional, outra versão foi de que ele era viciado em drogas, e foi um acerto de contas de uma divida com a boca. Porem até hoje permanece o mistério, e a única coisa que se sabe, foi que ele implorou muito pra não morrer, pois o pessoal da rua ouviu seus gritos de horror.

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